Pesquisa realizada pela assessora de Comunicação da Congregação das Irmãs de São José, Eliana dos Santos, foi defendida na Unisinos. Trabalho objetiva colaborar para a prática de uma comunicação libertadora na sociedade contemporânea, a partir da Vida Religiosa Consagrada.
‘Uma jornada pelos rastros da midiatização em fluxo: travessias, afetações e tensionamentos de um caso em circulação – Invasão Policial na CASJ em Pacaraima/RR’, este foi o tema escolhido pela jornalista Eliana Aparecida dos Santos como dissertação de mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale dos Sinos – UNISINOS, em São Leopoldo/RS. Defendida em abril, a tese da assessora de Comunicação da Congregação das Irmãs de São José se dá a partir da invasão policial ocorrida na Casa de Acolhida São José – CASJ, em 2021, caso que repercutiu pela violação de direitos sofrida por mulheres e crianças em situação de refúgio e migração, durante a pandemia. No episódio, também a diretora do abrigo, Irmã Ana Maria da Silva, membro da mesma congregação, foi coagida e levada indevidamente para a delegacia.
‘’Me chama a atenção que o fenômeno da midiatização perpassa todos os aspectos desta pesquisa. Ele se manifesta com seus primeiros sinais, desde a captura de imagens em fotos e vídeos já na chegada dos policiais na CASJ, às 8 horas da manhã, do dia 17 de março de 2021, e recebe ampla divulgação ao serem lançadas nos distintos canais de mídia. Por meio deste movimento, o fenômeno se desloca do contexto interno da Casa, de uma micro ambiência, e é lançado, por meio de atores sociais distintos, a macro ambientes de divulgação. O caso se expande, se dilata e circula, entra em campos sociais diversos e chega em minhas mãos. O simples movimento inicial que faço de procurar no Google informações sobre o caso já está impregnado do fenômeno da midiatização. Eu saio deste contexto, entro no lugar acadêmico e sigo os rastros da midiatização no caso. Relato o que vejo, o que ouço, faço inferências e descobertas’’, explica Eliana.
Sob o chamado para contribuir na construção de um mundo justo, humano e fraterno e a viver um estilo de vida ético, ciente de que cada escolha tem um impacto na sociedade e no planeta, segundo a jornalista, ‘’o trabalho deseja colaborar para que, num contexto de Vida Religiosa Consagrada, seja possível, compreender, encontrar sentido e construir caminhos que levem á prática de uma comunicação libertadora e inserida no contexto atual da sociedade. Assim, poderemos nos identificar como VRC profética, em nosso ser e em nosso agir, imersas em uma sociedade em transformação que vive processos contínuos de midiatização. Precisamos adentrar esses espaços e arriscar no intuito de ‘retornar à unidade’ e aí ser presença de comunhão’’, afirma.
A pesquisa foca nas questões comunicativas que envolveram o caso, com destaque á ação e atuação da Congregação das Irmãs de São José no contexto da comunicação e que movem a jornalista a partir das seguinte perguntas: que oportunidade a Vida Religiosa Consagrada tem para viver a profecia, diante deste mundo caótico e confuso envolto em tecnologias? Quais os medos que a impede de adentrar estes espaços e construir relações e interações seguras e de sentido por meio das mídias ou apesar delas? Que caminhos percorrer? e Quais as pedras no caminho precisam ser ultrapassadas, integradas, acolhidas.
O trabalho é sustentado por uma trilogia teórica que foi se confirmando na prática: 1) A midiatização, que se apresentou como área de apoio, de fundamentação, que direcionou as buscas e conexões e que guiou o olhar da pesquisadora; 2) o acontecimento propriamente dito, ou seja, a invasão policial na CASJ, a partir do qual se deram os elementos concretos para a pesquisa; 3) o caso, resultado do acontecimento após sua repercussão nas mídias e envolvimento em campos sociais diversos, que o tornou midiatizado. Assim, ao entrar no fluxo das mídias, o fenômeno da midiatização se manifesta, se apresenta e o acontecimento agora é um caso midiatizado, ocorrido em um espaço social religioso.
A tese será disponibilizada para pesquisas e ambientes universitários, entre outros. A pesquisadora também pretende organizar artigos e textos diversos, bem como compartilhar o conteúdo da pesquisa em palestras e seminários. ‘’Esta dissertação é uma esfera da midiatização, é um dos grandes efeitos do caso. Assim como as fotos, os vídeos, os discursos, as matérias, as notas públicas, as postagens, as ações e as reações sobre a invasão, também a pesquisa vai se tornar, se já não é, uma intervenção midiatizada do caso. Após a conclusão deste trabalho e a entrega para a academia, o texto entra na dinâmica da midiatização e eu perco o controle sobre ele, vai pertencer ao fluxo’’, finaliza Eliana dos Santos.
FOTOS Arquivo/Eliana dos Santos e CASJ